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Ângela Quaresma: “A persistência é um ato de inteligência e amor à causa animal”

08.02.2024

Provedora dos Animais em S. João da Madeira há três anos, Ângela Quaresma, cumpre o final do seu mandato no ano de 2025 e neste período de tempo muito tem sido feito para mudar o paradigma atual.
Em entrevista exclusiva, ficamos a conhecer mais sobre as funções que desempenha e que contribuem fortemente para a criação de soluções adequadas ao flagelo do abandono animal, bem como a importância da sensibilização e educação para a mudança de mentalidades.

Enquanto Provedora dos Animais há três anos, quais foram as principais metas alcançadas em prol da causa animal? 
Primeiramente, quero agradecer pela oportunidade de falar um pouco sobre este trabalho que abraço, já há três anos, voluntariamente. Não é uma tarefa fácil, mas cada dia vamos conquistando pequenas vitórias. 
 
Através da sensibilização temos conseguido que a sociedade veja de uma forma mais respeitosa, quer os animais, quer as pessoas que lutam por eles. Acho que posso considerar o respeito uma das principais metas, pois a partir daí, a comunicação com o outro se torna mais simples para atingir os objetivos que se seguem. 
 
Entre as principais funções que realiza como Provedora dos Animais, quais são aquelas que têm tido um maior impacto na diminuição da realidade do abandono de animais?
Sem dúvida, o trabalho de sensibilização ao longo dos anos, trouxe alguns frutos. Deverá sempre ser realizado, a par da informação sobre esterilização. Devido à ausência de esterilização em famílias com machos e fêmeas, é natural que nasçam ninhadas e dessas ninhadas muitos acabam por ser colocados nas ruas ou entregues como se fossem "sacos de batatas", sem nenhum critério digno, muito menos com a preocupação de que o animal saia com as medidas legais vigentes, como micro-chip e vacina da raiva.
 
Essas más adoções farão perpetuar o número de animais que não se encontram em boas condições e, futuramente, esses mesmos animais irão gerar outros e é um ciclo infindável que só tem término, através da esterilização. Tenho alguns protocolos com clínicas veterinárias, justamente para conseguir melhores valores para as famílias carenciadas e evitar que haja mais animais abandonados. Também nas palestras que dou, foco sempre a importância de uma adoção consciente, responsável, pois não podemos nunca esquecer que estamos a adotar um ser vivo e a adoção deve ser para vida e não apenas por uns dias.
 
Considera que a sensibilização e educação para as temáticas da causa animal são fundamentais para a mudança de mentalidades?
Sabemos, hoje em dia, que a causa de abandono dos animais está ligada não só à falta de responsabilidade, como também à fraca condição económica. Infelizmente, ainda não há respostas suficientes para as famílias carenciadas com animais de companhia que precisem de um teto. As instituições não estão preparadas para esta realidade e deviam estar, pois os animais são cada vez mais reconhecidos como membros da família, como uma familia multiespécie. Por isso, reconheço que a sensibilização também deve passar pelas Instituições e órgãos governativos para que haja, também nesta área social, uma mudança de mentalidades.
 
Acredita que a existência de programas CED é suficiente para travar o abandono animal ou este sistema pode ser melhorado?
O Programa CED é um ótimo método, contudo, peca por ser, de momento, apenas para gatos e opcional. Infelizmente, nem todas as Câmaras Municipais têm implementado esse Programa fazendo por si só com que munícipes e associações substituam o Estado e paguem do seu próprio bolso a esterilização para não haver mais animais errantes. 
 
É necessário que também seja realizada a sensibilização para as autarquias, pois sem isso, ficará difícil terminar com o flagelo que nos deparamos todos os dias. Felizmente, a minha autarquia tem essa sensibilidade e o nosso Programa CED é um dos mais bem estruturados que conheço, respeitando os animais desde a sua captura até à sua devolução. Contratamos o serviço de clínicas particulares para que tenhamos um número maior de CEDs realizado, bem como para que os animais tenham o recobro necessário e não sejam imediatamente colocados na rua. 
 
Quais são os principais problemas que existem ao nível do abandono e da própria legislação a favor dos direitos dos animais?
Recentemente vimos com satisfação que maltratar animais, constitucionalmente é crime! Não podia ser diferente na medida em que falamos de seres sencientes, contudo, temos uma Lei que pode ser melhorada e acredito que nos encaminhamos para isso. Mas a questão até não é a falta de Leis, mas sim, a falta de fiscalização. 
 
Muitos animais passam por uma vida de terror, mas infelizmente, por terem as condições mínimas, continuam como estão e a preocupação por parte de algumas autoridades é apenas olhar para a documentação e confirmar se está em dia. Esse comportamento devia ser alterado imediatamente e devia privilegiar-se o bem estar físico e emocional do animal , pois isso, paralelamente às questões legais que são muito importantes, pode melhorar e até salvar a vida de um animal. Denunciar continua a ser a solução e a persistência é um ato de inteligência e amor à causa animal.